Um olhar sobre as corridas

"(...)O WTCR está pronto para retornar ao seu país nesta temporada e, claro, a Vila Real. Isso vai ser bom para você?(...)

Perguntas e Respostas sobre a preparação da temporada do WTCR: Tiago Monteiro

“Não tenho dúvidas de que consigo, senão não teria voltado. Na verdade, estou ainda com mais fome do que antes do meu acidente ”

Enquanto Tiago Monteiro continua a se preparar para sua 10ª temporada como membro da família Honda Racing, o herói da reviravolta da WTCR - FIA World Touring Car Cup fala sobre os desafios que enfrentou para chegar à frente no ano passado e sua firme convicção de que pode voltar o topo do pódio em 2021.

O homem de 44 anos, que terminou no pódio na Fórmula 1, também explica como se manteve ocupado vivendo a vida trancado em seu país natal, Portugal, e por que guiar a carreira de seu filho Noah no karting é um caso de repetição da história.

Ainda faltam alguns meses para o início da temporada do WTCR de 2021. Você está empolgado com a perspectiva de voltar às corridas com seu Honda Civic Type R TCR?
“Considerando tudo o que está acontecendo com a pandemia, temos uma temporada forte pela frente, com muitos pilotos de qualidade. Parece que vai ser uma grade muito, muito forte, semelhante ao que tínhamos em 2019, então isso é positivo e emocionante. Os eventos que planejamos serão incríveis. Começar na Nordschleife é um grande desafio, é a pista de corridas mais dura do mundo e começar lá será interessante entrar no ritmo de imediato. Depois é direto para Vila Real, que é outra pista difícil, mas nas ruas. As duas primeiras corridas vão ser muito difíceis, mas sabemos que são importantes para te posicionarmos para o título. Você vai ter que estar realmente pronto e no topo das coisas imediatamente para ter uma chance. ”

Você entregou um excelente pódio na Hungria, mas talvez não tenha o volume de pódios que esperava. Como você pode mudar isso em 2021?
“Os resultados não foram os que eu queria, mas, no geral, o desempenho não foi tão ruim. Eu simplesmente não consegui mostrar isso muitas vezes por causa de erros, falta de desempenho em uma determinada pista ou as regras da equipe. Somos uma equipe e somos uma equipe forte junto e em um ponto temos que trabalhar para quem está liderando o ranking. Mesmo se você for capaz de se sair um pouco melhor, não pode, porque você tem que pensar em todo o quadro que é ganhar o título das equipes e levar um dos pilotos Honda ao título geral. Eu estou bem com isso, mas com certeza temos que sacrificar às vezes. É um pouco o que aconteceu no ano passado, mas com certeza cabe a mim ter um melhor desempenho no início. ”

O que te impediu de fazer isso?
“Tive um problema de motor no primeiro fim-de-semana e três corridas com o motor muito fraco, por isso foi um pesadelo até o mudarmos. Íamos mudar para a Eslováquia, mas não mudamos e foi um grande erro porque eu não estava em lugar nenhum. Eu estava perdendo cinco décimos nas retas para meus companheiros de equipe, então foi realmente frustrante. Então mudamos para Budapeste e foi quando a apresentação veio imediatamente. É um pouco minha culpa não ter pressionado mais para fazer a mudança, mas tomamos todas as decisões e pensamos que poderíamos viver com isso. ”

E você estava em sua melhor forma na Hungria ...
“Definitivamente, estive nas costas de Esteban [Guerrieri] durante toda a Corrida 3. Se eu quisesse, poderia ter lutado pela vitória, mas essas são as regras e você tem que segui-las. Estou bem com isso e estive do outro lado, onde a equipe está me ajudando. É assim que funciona. De qualquer forma, a partir de Budapeste o desempenho foi melhor. Mas é uma série tão difícil e você não pode deixar nada ao acaso. ”

Em sua mente, você ainda consegue reproduzir aquela forma incrível de 2017, quando você estava consistentemente bem no topo, ainda está em você?
“Não tenho dúvidas, senão não teria voltado. Eu não queria voltar apenas para fazer parte disso. Quero estar de volta ao topo e quero lutar no topo e quero ganhar o título mundial. Eu ainda acredito que posso fazer isso e talvez eu esteja ainda com mais fome do que antes [meu acidente]. Mas, novamente, você tem tantos pilotos que podem ganhar o título, mas eles nunca o farão, porque tem que ser no momento certo, o pacote certo, o estado de espírito certo, tudo tem que estar se solidificando. Você pode ter uma velocidade muito forte, mas então se você tiver algumas falhas ou alguns acidentes com concorrentes ou o que for, então tudo acabou, embora você estivesse pessoalmente pronto para atuar. Muitas coisas precisam estar do seu lado, especialmente quando você tem uma grade tão competitiva. É muito fácil ir da pole position para P15 no próximo fim de semana ou até mais às vezes. É muito difícil estar consistentemente no topo. ”

Que melhorias você pode fazer no carro para ajudá-lo em sua tentativa de vencer?
“Sempre há coisas para melhorar e todos estão trabalhando muito para isso. Novos carros estão chegando, mas não temos um carro novo, então se não melhorarmos, estaremos realmente lutando. Você pode ver alguns pontos fracos, na tração, por exemplo, em alguns lugares e velocidades máximas. Temos um chassis muito bom no geral, por isso somos bons nas peças técnicas. Mas se você tem longas linhas retas com grandes paradas e saídas em curvas lentas, este é um dos pontos fracos que temos, então temos trabalhado muito nisso. Percebemos de nossos concorrentes que é onde eles estavam ganhando sobre nós. Analisamos muito o que aconteceu no ano passado, analisamos nossos pontos fortes e fracos. ”

O WTCR está pronto para retornar ao seu país nesta temporada e, claro, a Vila Real. Isso vai ser bom para você?
“Em primeiro lugar, é uma grande oportunidade de dirigir na frente de sua torcida porque eu perdi no ano passado para ser honesto. Às vezes você não dá valor porque vai lá todos os anos, mas não percebe como é bom até que não vá lá! Quando perdemos no ano passado, não parecia o mesmo e o WTCR para mim não era o mesmo com saudades de Portugal. Mas é uma pista tão exigente e difícil, uma das mais difíceis além de Nordschleife. Poder correr lá com qualquer tipo de carro é simplesmente fantástico e eu perdi isso por todos esses motivos. Estou realmente ansioso para fazer isso e espero que as condições de pandemia nos permitam fazer isso da maneira adequada. ”

O que o mantém ocupado desde o final da temporada de 2020?
“Honestamente, tenho estado muito, muito ocupado desde que terminamos a temporada. Tivemos muitas teleconferências para preparar os testes e em breve estaremos testando tudo em que estivemos trabalhando durante o inverno. Claro, o lado administrativo das coisas também está me mantendo ocupado. Alguns dos meus pilotos da Skywalker Management já estão correndo, alguns deles ainda não e alguns deles ainda não têm programas, então houve muitos telefonemas para finalizar tudo. Tenho 12 pilotos, por isso estou bastante ocupado e estou envolvido com Jean-Karl Vernay desde o ano passado e António Félix da Costa mantém-me ocupado na Fórmula E. ”

Tempos tão ocupados, mas você tem tempo para relaxar?
“Estou tentando manter a forma, treinando e também cuidando dos meus pais. Ambos tiveram COVID durante o inverno e foi muito complicado em dezembro, mas eles se recuperaram muito bem. Eles moram não muito longe de mim e é muito fácil verificá-los. Estamos confinados em Portugal nos últimos dois ou três meses, mas o início desta semana foi o primeiro dia de um desconcerto parcial. ”

E o seu filho, Noah, e sua carreira no kart?
“Meu filho deu um grande salto para uma nova categoria de go-karts, uma categoria júnior, e ele correu internacionalmente este ano. Na verdade, tenho viajado bastante com ele para as pistas na Espanha, França e Bélgica. Ele teve duas corridas consecutivas, além de testes. Então nós tivemos uma semana de folga e vamos partir na próxima semana para a Bélgica novamente. ”

Deve ser como a história se repetindo para você, porque foi seu pai quem foi um farol quando você começou a correr?
“É verdade e eu estava falando sobre isso outro dia com meu pai. Podemos ter a sorte de ter pais que podem nos orientar e ajudar durante os difíceis começos. Meu pai não era ninguém do mundo do automobilismo, mas ele apenas me ajudou com sua experiência nos negócios e em suas experiências pessoais e nós nos saímos bem juntos. Usei muito essas experiências para ajudar meu filho, mas estou ajudando muitos motoristas, alguns experientes, alguns jovens. Quando se trata de seu filho, é sempre um pouco diferente e não posso esconder isso. Eu o vejo como um motorista, sim, como um motorista profissional em potencial, mas ao mesmo tempo ele ainda é meu filho. Mas é bom e estou gostando muito dessa experiência com ele. ”

O quão complicado é encaixar a sua escolaridade ao mesmo tempo que o seu karting?
“Estivemos duas semanas na estrada, mas ele tem que fazer os trabalhos escolares online quando não está testando. A escola tem sido muito boa para se adaptar aos horários de seus exames e outras coisas. Ele faz um dia de testes, mas depois volta à noite e mesmo que ele esteja cansado, tivemos que fazê-lo estudar mais. Ele está passando por uma lição de vida incrível que eu nunca tive porque comecei a correr aos 18 anos e não passei por todo esse processo inicial. Ele tem 11 anos e é uma loucura que ele seja tão jovem, mas ele já está neste nível. É uma grande oportunidade para mim viver esta vida com meu filho e acho que ele também está se divertindo. ”

E parece que a carreira do seu filho está começando a decolar?
“Ele me impressionou muito nas últimas semanas nessas corridas. Ele está se saindo muito melhor do que qualquer um esperava e isso é bom ver, claro, quando você trabalha duro, mas vê que está valendo a pena. Todos que estão ao seu redor, trabalhando com ele estão bastante motivados porque ele mostra muitas melhorias. É um caminho que percorremos juntos e devo dizer que gostamos muito disso. Não tenho ideia do que o futuro reserva, se ele vai se tornar um motorista profissional ou não ou o que vai escolher. Mas é ótimo compartilhar essa paixão juntos. ”

Algum pensamento e esperança para o futuro?
“Um segredo que tenho, algo que espero secretamente, é que ele chegue aos carros rápido o suficiente para que eu possa correr com ele em Nordschleife ou Le Mans nas corridas de 24 horas. Eu adoraria isso e se eu ainda for competitivo em cinco ou seis anos, isso seria realmente um sonho que se tornou realidade. ”

MAIS SOBRE TIAGO MONTEIRO: REVISIT WTCR FAST TALK, O CAMPEÃO MUNDIAL QUE NUNCA FOI
“Pisei no freio e nada aconteceu. Peguei o freio de mão, mas nada aconteceu, reduzi a marcha uma vez, mas não me deixou reduzir mais. Eu vi a parede vindo em alta velocidade. Minha reação foi ‘de jeito nenhum, não vou bater na parede de frente’, então tentei fazer a curva. Mas naquela velocidade, de lado na grama, o carro girou, o que o desacelerou para 186 km / h quando tive o impacto. Quando perdi a primeira corrida [depois do acidente] pensei, tudo bem, estarei lá para a próxima corrida no Japão. Mas eu não conseguia ver com os olhos [como eles eram], não conseguia me mover, mal conseguia pegar uma garrafa de água com o braço direito, então como diabos poderia pensar em dirigir? Tive a sorte de estar aqui e sobreviver e meu objetivo era tentar ter uma vida normal, poder levar meus filhos à escola, ir comprar mantimentos, mesmo que eu tenha que usar óculos e não enxergar muito Nós vamos. Mas nunca vou dirigir de novo e, mesmo se pudesse, eu realmente quero isso, o risco vale a pena? "

Part one: https://www.youtube.com/watch?v=nrr_B5y380Q

Part two: https://www.youtube.com/watch?v=dDoNJ-Yii6g