Realmente, esta é a verdadeira Capital da Velocidade Nacional
"Como disse que o faria, aqui estou a dizer “o que me vai na alma” acerca do fim de semana em Vila Real, principalmente do desfecho da minha prova.
Convém recuar um pouco, tempos antes da corrida, para que todas as variáveis sejam conhecidas, e seja mais fácil percebermos como funcionam as corridas e o que se passa “fora da pista”, já que o comum dos mortais pensa que a corrida começa na partida e acaba na bandeira de xadrez.
A minha corrida começou há muitos meses, quando principiei a tentar angariar Patrocínios que me permitissem ter condições para discutir os lugares cimeiros da Categoria H71 do CNCC 1.300. Com a ajuda de família, amigos e conhecidos, consegui reunir um orçamento muito modesto que apenas me permitiria fazer (no máximo) duas provas. Como se não bastasse esta condicionante, mantinha-se o problema de não haver Pneus Dunlop, e teria que fazer a gestão dos pneus que tinha (muito usados e antigos) porque Vila Real é “a prova” e tinha que ter pneus para correr na Pista que mais gosto e com a qual mais me identifico. Abdiquei das duas primeiras Provas (Braga e Estoril) porque não queria gastar os pneus, e não havia novos. Vem Vila Real, e continua a não haver pneus, temos que ir com os mesmos da corrida de 2015, que já nessa altura foram aproveitamento dos melhores pneus usados meus, do Nuno Pimenta e do Rui Sanhudo.
Esta Prova, como referi, é a minha preferida. Em 2014 tive uma desistência e um segundo lugar, e em 2015 mais dois segundos lugares. Era legítimo aspirar a algo mais, com os melhoramentos ligeiros que o carro teve.
Inscrição feita, carro preparado, tudo alinhado para estar em Vila Real na 5ª feira, e fazer tudo com calma. A uma semana da corrida, o primeiro volte-face. Por motivos profissionais, não me iria ser possível participar nos treinos nem estar presente no Briefing de Pilotos. Após uma semana de ansiedade, já que a primeira informação foi “não pode correr”, na 5ª feira à noite recebo finalmente luz verde para participar na Prova, partindo obviamente de último lugar na corrida de sábado. Aqui foi fundamental a ajuda da ANPAC, da FPAK e da compreensão da Direcção de Prova.
Sexta-feira à noite lá vamos para Vila Real, e tudo a postos para a corrida de sábado.
Não sei se algum dos pilotos e ex-pilotos que me lê já partiu de último num circuito citadino numa corrida de 48 carros. Não é fácil, principalmente quando os carros que vão à nossa frente são tão lentos que perdem o contacto com os carros da frente na volta de formação, e ficamos logo a cerca de 30 segundos da frente da corrida quando arrancamos.
Partida efectuada, algumas posições ganhas e acidente… na segunda curva. Os carros têm que passar como podem, um de cada vez e bandeira vermelha, com Safety Car a velocidade muito lenta. O carro começa a acusar problemas de alimentação, que eu pensei ser velas encharcadas. Chegado ao meu lugar na grelha, com o carro a mais de 90º, percebi que estava com problemas para a segunda partida. Após a espera, mandam-nos colocar os motores em marcha e demoramos bastante tempo a arrancar para a volta de formação. Resultado, o carro atinge 100º, e os problemas agravam-se. Fico na subida de Abambres, e a pensar se irei ter carro para Domingo.
Após retirar o carro do parque fechado, começa a maratona para tentar descobrir e resolver o problema, para que o carro esteja pronto para Domingo. Abreviando, e após uma viagem a Paredes à uma da manhã para ir buscar uma tampa de distribuidor, saímos das boxes às 3h da manhã ainda sem a certeza de que o carro estaria em forma para a corrida.
No domingo, eram 8h e já o Sérgio Macedo e o Renato Costa trabalhavam no carro, para o deixar pronto para a corrida. Quando cheguei às 10:30h, as dúvidas eram algumas, o carro trabalhava bem, mas não estávamos certos de que o problema estaria resolvido, já que só se manifestava com o motor muito quente.
Vamos para a grelha e volto ao meu lugar para arrancar, novamente a última posição. A tensão era alguma, mais do que o normal. Volta de lançamento, aquecer os pneus velhos e preparar-me para arrancar. Ainda a descer para a rotunda da M. Coutinho já vejo o pelotão todo a passar na curva lá em cima. Faço a chicane, e a partir de agora é a fundo. E foi. Na primeira volta recuperei 10 posições, na segunda volta já tinha ganho 17 lugares. O carro estava bom, e eu estava motivado e a conduzir sem erros e de forma (julgo eu) exemplar. Quando finalmente começo a aproximar-me do grupo “que me interessa”, e de quem volta após volta estou mais perto, sou dobrado pelo Joaquim Jorge (normal) e dá-se o “murro no estômago”, entra o Safety Car e coloca-se na frente do líder da prova. O grupo que eu perseguia, e que estava ali a poucos segundos, desaparece e eu vejo todo o meu esforço cair por terra, e as minhas possibilidades de alcançar um bom resultado na categoria H71 acabam naquele momento. Confesso que foram as voltas mais penosas ao Circuito desde que faço Vila Real… No entanto, e recomposto da decepção e da frustração, concentro-me e penso “coisas das corridas” (estas sim, são mesmo coisas das corridas) e vejo a situação pela positiva. Não estraguei o carro, fiz uma boa prestação e resta-me terminar a prova, descomprimir e celebrar o bom andamento e a boa corrida que fiz até então.
Após as voltas atrás do Safety Car, bandeira verde e lá vai o Joaquim Jorge. Eu arranco também a fundo, mas com consciência que tenho os outros “grandes” perto de mim. Abro a seguir à chicane da meta, e deixo também passar carros mais lentos que eu para não atrapalhar a corrida dos da frente (está filmado). Sigo no encalce desses lentos - que seguindo lado a lado tapam o Rui Costa na subida de Abambres mesmo com bandeiras azuis a serem mostradas – e eu aproveito o cone do Rui Costa para subir ainda mais rápido, passando o Cortina Lotus na chicane de Mateus de forma isenta e limpa. Vamos para a descida de Mateus, que faço a fundo mesmo com os pneus velhos, e o Cortina mantém-se a alguma distância. Chicane da Aurocária, estou em cima do 323i e sigo para a “parte nova”. Ao entrar nesta parte da pista, bandeiras amarelas porque o Starlet está avariado, mas logo a seguir verdes. “só mais duas curvas, penso”.
Eis então que o impensável acontece, e está à vista de toda a gente. Carro contra a parede de forma violenta, e projectado contra os pneus de igual forma. Confesso que todo o stress da semana e fim de semana foi descarregado naquele momento. Como era possível?! Depois de tanto esforço, de uma corrida exemplar até à entrada do Safety Car, de ter tido sempre uma condução isenta de erros e respeitando todos os pilotos, rápidos e lentos, como era possível acabar uma corrida de forma tão inglória e sem culpa nenhuma? E o carro? Como ficou o carro? Já não faço mais nenhuma prova este ano!
Tudo isto passou na minha cabeça em fracções de segundo e como humano que sou, a vontade foi descarregar a raiva, angústia, frustração e desilusão no responsável daquele incidente. Estive mal? Estive. Ia bater em alguém? Provavelmente não, não sou dessas coisas mas foi mais forte do que eu. Aquele sentimento tinha que sair para fora de mim de qualquer maneira, como disse sou humano, e não fui o primeiro piloto a ter esta atitude, nem acredito que serei o último, desde a F1, ao Autocross, passando por todas as modalidades do automobilismo.
Foi intencional, não foi, é azelha, falhou a travagem, não deveria ter saído do carro, foi uma cena assim ou assado, isso naquele momento pouco importa. Pensar que tudo acabou ali, que tenho uma reparação cara para suportar, que não irei fazer mais nenhuma prova este ano, que terei que me justificar perante quem me apoia sobre o porquê de não cumprir com o contratado, que faltam duas curvas e que nada fiz para merecer aquilo… Venha o primeiro “moralista” atirar a primeira pedra.
Como já o disse, aceito opiniões mas críticas não admito a ninguém, a não ser que tenha passado por uma situação igual e se tenha conseguido manter calmo. Eu se calhar teria, se também corresse com o carro sem patrocínios…
Aguardo pela decisão do CCD sobre qual a sanção que me irão aplicar, assumi as minhas responsabilidades perante o Colégio, como não poderia deixar de ser e apenas aceito ser julgado por este Órgão Disciplinar, não por qualquer comentador de bancada, por muito experiente ou importante que se ache.
Um abraço a todos, em especial à minha equipa, família, amigos e conhecidos que me fizeram chegar mensagens de apoio, e principalmente a todo o fantástico público presente no circuito de Vila Real. Realmente, esta é a verdadeira Capital da Velocidade Nacional.
Até 2017!
Nota: texto redigido ontem à noite, no silêncio do meu pensamento."
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