· Combates sem tréguas animaram estreia em circuitos do novo Troféu monomarca;
· Fair-play marcou prestação dos pilotos numa corrida em que os “Júniores” demostraram estar cada vez mais à vontade perante os “Pro”.
Vila Real, 23 Junho 2018 – Com a faca nos dentes, mas grande respeito entre os pilotos. A estreia em circuitos do Kia Picanto GT Cup no exigente traçado de Vila Real não podia ter corrido melhor, traduzindo-se em disputas épicas que cativaram o muito público presente, apesar da hora matutina. No final, um determinado Rui Silva acabou por ultrapassar o autor da pole-position Hugo Araújo e cruzar a linha de meta da Corrida 1 como melhor Júnior e vencedor à geral.
Muitos sem experiência no combate ‘porta com porta’, outros com a irreverência própria da juventude, a verdade é que os pilotos do novo Troféu monomarca da Velocidade Nacional encararam esta primeira corrida do fim-de-semana com o espírito correto. Na primeira vez em que partilharam o mesmo espaço em pista, valeu o pragmatismo. Mas isso não comprometeu em nada a emoção de uma corrida que poderia ter tido um desfecho distinto, dadas as características muito particulares do circuito.
Fotografia: Nuno Organista
AMBIÇÃO DE RUI SILVA NA LUTA COM HUGO ARAÚJO Para o primeiro classificado Rui Silva, esta era uma prova em que era importante obter um bom resultado e impressionar os seus patrocinadores. E talvez por isso tenha feito tanta questão de obter o triunfo à geral, apesar de apenas pontuar para a categoria Júnior. O balanço do fim-de-semana só podia, naturalmente, ser feliz:
“Foi uma corrida muito positiva. A ideia sempre foi, desde o início, ter o Hugo à frente nas primeiras voltas para tentarmos fugir do pelotão os dois, sendo da mesma equipa, e no fim procurar passá-lo. Foi um bocadinho mais tarde e renhido do que eu imaginava, porque pensava ter velocidade para o fazer mais cedo. Já tinha tentado duas vezes na descida de Mateus, mas chegávamos lá muito rápidos. Embora ele fechasse bem a trajetória, tentei outro sítio e o melhor local para o apanhar desprevenido era a primeira esquerda após o fim da reta da meta. Foi uma luta animada e leal. Apesar de competirmos em categorias distintas, há sempre aquele gosto em receber a bandeira de xadrez em primeiro lugar. Era o meu objetivo e estou muito feliz por tê-lo conseguido”, referiu o piloto.
Fotografia: Vsco Estrelado
PRAGMATISMO FEZ A DIFERENÇA Apesar de cruzar a linha da meta no segundo lugar, Hugo Araújo mostrava-se igualmente radiante com o resultado, depois de ter sido o vencedor da categoria Pro. O piloto apoiado pelo concessionário Kia “Cardan” reconhece rapidez a Rui Silva, mas admite ter levantado o pé a meio da corrida numa tentativa de proteger a mecânica do carro.
Fotografia: Nuno Organista
Sobre a ação que viria a definir a corrida e o primeiro lugar à geral, o piloto do Kia Picanto nº 99 confessa que não tinha outra hipótese senão “abrir a trajetória” e facilitar a ultrapassagem, em virtude de não comprometer o mais importante — a obtenção de pontos na luta pelo título:
“Nas primeiras voltas consegui abrir um pequeno fosso para o Rui Silva, mais um talento extraído do Kia Racing Opportunity. Percebi que ele tinha andamento para irmos embora, mas fui gerindo a corrida, em particular na passagem pela chicane, para não colocar o carro em causa. Fiz o mesmo com a travagem, portanto foi uma corrida de gestão. Nas últimas voltas percebi que o Rui vinha com alguma vontade de passar, tendo ali uma ou duas falhas que o levaram, inclusive, a seguir em frente na chicane. Em mais uma tentativa, acabou por conseguir colocar-se ao meu lado, decidindo abrir a trajetória e deixá-lo passar já que não queria, de forma alguma, comprometer o meu fim-de-semana. Fui pragmático e com isso amealhei o máximo de pontos possíveis, com o triunfo e pole-position na categoria Pro”.
Fotografia: Vasco Estrelado
DUARTE AGUIAR BRILHA NA ESTREIA Tendo travado uma grande luta com Filipe Serra, Duarte Aguiar concluiu a prova no 3º posto. Mas como os convidados da Kia Portugal não pontuam para o Troféu, foi ‘forçado’ a ceder o seu lugar a Tiago Ribeiro, que cumpria em Vila Real a sua estreia ao volante do Kia Picanto.
Ainda assim, a experiência não podia ter sido melhor, já que o objetivo era divertir-se: “Foi uma corrida muito gira e divertida. O arranque correu-me muitíssimo bem, tendo conseguido tirar o melhor partido do carro para ganhar a posição ao Filipe Serra. Num circuito difícil de ultrapassar como o de Vila Real, ele andou sempre colado a mim, fazendo com que perdêssemos um bocadinho de tempo para o Hugo Araújo e o Rui Silva, que ocupavam nesse momento as duas primeiras posições e iam igualmente numa luta muito animada. Acabei, depois, por falhar uma passagem de caixa que viria a dar a oportunidade ao Filipe de me passar — algo que aconteceu naturalmente já que não queria estragar a corrida de ninguém. Mas ele acabou por ter um azar e embater nos rails, colocando-me novamente no 3º posto. Foi um fim-de-semana muito positivo. Diverti-me imenso, o carro é muito giro e o Troféu é muito engraçado. Espero vir a repetir!”
O outro protagonista desta história, Filipe Serra, acabaria por cair para o último posto. Mas voltou a deixar excelentes indicações ao volante do Picanto apoiado pelo concessionário Kia “SGS Car”.
“Perdi o 3º lugar obtido na qualificação logo no arranque e isso obrigou-me a correr atrás do prejuízo nas voltas iniciais. Após uma luta muito interessante, consegui ultrapassar o Duarte Aguiar e comecei a aproximar-me dos dois primeiros classificados. Mas, na travagem antes da chicane, o sistema ABS do carro não me permitiu desviar dos pneus, acabando por dar um toque que comprometeu a minha corrida num momento em que estava com um ritmo acima das minhas expetativas, algo que me dá alento para a corrida que se irá disputar amanhã”, revela.
Fotografia: Nuno Organista
MARRÃO BRILHOU NO ENCONTRO COM O SEU PÚBLICO Nos lugares imediatamente atrás do pódio terminaram Francisco Marrão e Hugo Marcos. A partir da 7ª posição da grelha, o piloto vilarealense sacou de todos os coelhos da sua cartola para fazer uma grande corrida.
“Foi excelente. Ainda me falta alguma confiança na travagem e a verdade é que mesmo com treinos livres e cronos não é fácil obter uma volta limpa. Na corrida, a situação é distinta. Temos de lutar com o que temos e o que conseguimos para tentar fugir ao adversário. Portanto, torna-se uma corrida renhida. Fico ainda mais satisfeito por ter sido uma prova limpa, com muitas disputas. O grupo está de parabéns, tal como a CRM Motorsport e a Kia Portugal. Este Troféu é excelente e eu estou maravilhado com isto”, fez notar o piloto da Speedy Motorsport.
Já Hugo Marcos queixou-se da forma como o acidente de Filipe Serra viria a influenciar o seu resultado numa pista “fantástica” onde se sente cada vez mais à vontade:
“É giríssimo andar neste circuito com carros à frente e atrás. Mas também constatar, ao mesmo tempo, que houve excelente fair-play entre todos os pilotos. É um circuito em que só ultrapassas se houver colaboração do piloto da frente, senão tem tudo para dar asneira. Acho que os carros são muito divertidos de conduzir aqui no limite, tendo aguentado perfeitamente os 20 minutos da corrida com uma boa gestão dos pneus e dos travões. A caixa mais curta também assenta aqui que nem uma luva e adorei o público vilarealense, sempre ao rubro. Infelizmente a saída de pista do Filipe Serra obrigou-me a desviar-me dele, provocando, no processo, que o carro entrasse momentaneamente em ‘safe mode’. Sem potência por alguns instantes, fiquei à mercê do Francisco Marrão e do Mariano Pires, acabando mesmo por perder um lugar para o primeiro. Ainda tentei ir buscá-lo, mas já não fui a tempo”, explicou o Youtuber do CarOnline.TV, apoiado pela Tarkett no Troféu monomarca.
MARIANO PIRES REVELOU MATURIDADE Apesar de ter recuperado um lugar face à qualificação, o segundo melhor “Júnior” Mariano Pires fez uma corrida algo conservadora. Assim que se apercebeu da prestação de Rui Silva, optou por gerir o resultado e preservar a sua viatura para mais uma tentativa de amealhar a pontuação máxima na corrida de domingo.
“Estou satisfeito com o resultado, já que a Q1 não tinha corrido como esperado. Nos treinos livres estávamos muito rápidos, mas uma má escolha da pressão dos pneus e na afinação do carro fez com que tivesse perdido completamente a confiança na qualificação. Saí de 8º e ganhei uma posição, mas como vi que o Rui Silva estava na frente, a lutar por primeiro à geral e pela vitória na minha categoria, decidi não arriscar e segurar antes o 2º lugar”, referiu o piloto do carro nº 33 preparado pela Veloso Motorsport.
Fotografia: Vasco Estrelado
EVOLUÇÃO MARCA CORRIDA DE NUNO CAETANO Concluíram a prova atrás dele Francisco Esperto, que não evitou um violento toque, felizmente sem consequências de maior além de uma “direção desalinhada”, e Nuno Caetano, cujo calor e pressão dos pneus dificultaram a sua tarefa ao volante:
“Penso que a corrida foi muito civilizada, o que é, desde logo, um ponto a favor. Mas também muito gira. Sofremos, obviamente, com o calor, e a título pessoal penso que fui com as pressões erradas para a temperatura em causa. De meio para o fim comecei a sentir alguma dificuldade para controlar o carro. Mantive a posição e melhorei bastante o tempo face à qualificação, apesar das condições mais desfavoráveis, portanto gostei imenso. O carro continua a comportar-se exatamente como deve, ou seja, a ser muito giro de se conduzir, e o circuito é absolutamente fantástico, portanto foi uma aposta excelente que tanto a Kia Portugal, como a CRM Motorsport, fizeram quando delinearam o calendário desportivo. Amanhã penso que a corrida será mais complicada devido ao calor, mas as expetativas mantêm-se inalteradas: acabar a prova, aprender, melhorar um bocadinho mais o tempo se conseguir e trazer o Kia Picanto GT Cup de volta sem mácula”.
Também a realizar a sua estreia aos comandos do Kia Picanto GT Cup, o jovem Tiago Teixeira encerrou o top 10. Terceiro classificado na categoria “Júnior”, superou um trio de pilotos “muito cuidadosos”, a começar por João Santos, 11º classificado:
“Correu bem. Arranquei com algum receio de toques inicialmente, sendo ultrapassado por alguns pilotos, o que fez com que andasse sozinho durante a maior parte da corrida. Amanhã parto de 8º e vou ver se pelo menos consigo manter essa posição”, explicou o piloto do concessionário Kia “Corvauto”.
JOSÉ SUPICO DESTACA BARREIRAS SUPERADAS À procura de ganhar mais confiança, José Supico destacou o objetivo de “conseguir fazer a descida de Mateus a fundo”. Apesar de andar “mais sozinho”, ultrapassou essa “barreira” e superou outras zonas do traçado em que confessou estar a levantar o pé: “Ainda me estou a habituar ao carro e nunca tinha andado a estas velocidades. Mas gostei muito. Ontem estava muito cabisbaixo e agora estou muito mais satisfeito”, referiu.
Também “a curtir” a solo esteve uma bem-humorada Leonor Espinhal: “Melhorei um bocadinho e sinto-me mais confiante, mas continuo com receio de estragar a mecânica. Amanhã vou tentar andar mais próxima dos pilotos que rodam imediatamente à minha frente”, vincou.
GRANDE ESPÍRITO Enaltecendo o comportamento dos pilotos e a forma como encararam esta primeira corrida na desafiante Circuito de Vila Real, João Seabra mostra-se entusiasmado com o interesse crescente no Troféu e o grupo que compõe o plantel do Kia Picanto GT Cup:
“Não podia estar mais satisfeito com o nível dos nossos pilotos, bem como a forma como têm respondido aos mais diversos desafios. A ida a Vila Real angariou a maior lista de inscritos do ano e os novos elementos que se juntaram ao Troféu depressa incorporam o espírito do Kia Picanto GT Cup. Nesta primeira corrida tivemos disputas fortíssimas com muito fair-play à mistura, espírito fundamental em qualquer competição automóvel”, salientou o diretor-geral da Kia Portugal, para quem o vencedor não passou despercebido.
“Quero agradecer a todos os concorrentes e deixar uma palavra de apreço especial ao jovem Rui Silva. É mais um produto do Kia Racing Opportunity, cujo talento tem vindo a ser confirmado nesta competição, e que hoje atingiu, provavelmente, o melhor resultado da sua ainda curta carreira desportiva. Parabéns!”
Para Tiago Raposo Magalhães, a primeira corrida do Kia Picanto GT Cup em Vila Real é já “um clássico que ficará na memória”, dada a qualidade das ações que tiveram lugar em pista. “Só tenho, mais uma vez, que enaltecer o comportamento dos nossos fantásticos pilotos, que souberam lidar, de forma exemplar, com a pressão desta estreia do Troféu em circuitos e proporcionar ao público presente uma grande e animada corrida”, concluiu.